Maktub, espressão árabe que siginifica "assim estava escrito". Quando a oposição começar a olhar para o futuro e não para o próprio umbigo, quem sabe aí, retorne ao poder, o que é importante, afinal estamos em uma democracia. Deixo lúcida análise do sociólogo Marcos Coimbra.
Como as oposições viverão o 4 de outubro
Por Marcos Coimbra na Carta Capital
Como o 3 de outubro torna-se mais e mais previsível, é hora de
começar a especular sobre como será o dia 4. Ele chega logo e é bom
estar preparado para entendê-lo.
É fácil imaginar a alegria de Dilma Rousseff, Lula, o PT, seus
aliados e o governo. Não custa sublinhar o caráter histórico da vitória
que deverão comemorar.
E as oposições? Como viverão esse dia?
A primeira coisa a dizer é que sua provável derrota pode ser tudo,
menos surpreendente. Se houve algo inesperado nestas eleições
presidenciais foi seu empenho em colocar a cabeça no cadafalso. Nem se
tivessem fixado a meta de fazer tudo errado teriam ido tão longe.
Parte da responsabilidade pelos seus erros pode ser debitada às
pesquisas de opinião. Não a elas (coitadinhas), que nada são além de
instrumentos. Mas à leitura superficial do que diziam.
Tudo o que estamos vivendo e que, parece, será confirmado no dia 3 se
definiu entre setembro e outubro de 2009. Foi quando a vantagem de
José Serra nas pesquisas levou a duas consequências.
Para o conjunto das oposições, seja no meio político, seja na
imprensa e na sociedade, produziu a impressão de que Serra era
invencível contra a candidata “artificial” que Lula tinha inventado.
Para o próprio Serra, ela limitou drasticamente as opções. Se, do alto
daqueles números, decidisse permanecer em São Paulo, seria como abdicar
em definitivo de qualquer projeto presidencial. Até seus aliados na
mídia deixaram claro que não aceitariam que fizesse outra coisa. Se
recuasse, nunca mais o apoiariam.
Naqueles meses, quem leu alguns de nossos colunistas mais conhecidos
ficou com a impressão de que o problema de Serra era Aécio Neves. Na
hora que o mineiro aceitasse a “candidatura natural” e cerrasse
fileiras, assumindo o lugar de vice, não haveria mais obstáculos entre
Serra e o Planalto. Lula, o governo, e Dilma não seriam problema: as
pesquisas (sempre elas) mostravam que a candidata de Lula “não
decolava”.
A vantagem de Serra levou as oposições a outro equívoco grave. Como
nenhum nome aparecia com pontuação relevante, elas se convenceram de que
não precisavam de outros. Bastava Serra, com seus 45%. Mais
candidatos, de outros partidos, seriam apenas um diversionismo. Elas se
achavam tão fortes (em razão das pesquisas) que queriam ir logo para o
confronto com Lula e Dilma.
Uma leitura estática e limitada das pesquisas conduziu as oposições
àquilo que Lula tinha antecipado que fariam: viriam com Serra e apenas
com Serra. O plebiscito que tinha imaginado como condição de sucesso
para quem o representasse estava pronto. Seria Serra contra sua
candidata.
Lula nunca fez a leitura ingênua que seus adversários fizeram das
pesquisas. Para ele, era totalmente irrelevante saber de quantos pontos
Dilma partia. Só o interessava o cálculo de onde ela poderia chegar.
Enquanto o PSDB e alguns jornalistas versados em pesquisas faziam as
contas de “quantos pontos Serra tem”, ele olhava para a frente.
Quando, em dezembro de 2009, Aécio resolveu sair da disputa pela vaga
tucana, a crônica de 2010 começou a ser escrita. Mês a mês, semana a
semana, dia a dia, tudo o que aconteceu de lá para cá pôde ser
antecipado.
É pouco provável que o resultado da eleição fosse diferente se Dilma
enfrentasse Aécio. Mas é certo que as oposições sairiam da eleição mais
bem situadas para o futuro.
Confirmado o resultado esperado, será a morte política de uma geração
de lideranças oposicionistas, que terá ido embora sem preparar novos
quadros para as eleições de 2014 (e as seguintes).
O melhor que teriam feito era admitir que ninguém derrotaria Lula
neste ano, e mirar nas próximas. Era hora de lançar rostos para o
futuro: um candidato a presidente que não estivesse, irremediavelmente,
preso ao passado e um vice que não fosse motivo de chacota.
Cometendo os erros que cometeram em 2010, as oposições adiaram seus
projetos de retorno ao poder por tempo indeterminado. Bom para quem
deseja que o PT chegue ao que os tucanos tanto almejaram (e não
conseguiram por incompetência): permanecer no poder por 20 anos.
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