sábado, 22 de dezembro de 2012

Miguel do Rosário: O destino dos reis





Texto de Miguel do Rosário artigos que poedem ser encontados em seu Blog "O Cafezinho", Retirado do  Doladodelá, Blog de Marco Aurélio Mello


A última patacoada do STF, produzindo uma crise entre os poderes, me fez pensar o seguinte: a observação diária da política brasileira é uma atividade psicologicamente desgastante. Não seria melhor deixarmos pra lá? Não seria melhor deixarmos que os debates políticos seguissem sem a interferência nossa, nós, os liliputianos das redes sociais? Afinal, o que ganhamos com isso a não ser insultos públicos lançados pela grande mídia? Merval Pereira, por exemplo, volta meia tenta mexer com nossos brios, ao descrever o movimento antihegemônico da blogosfera como fruto de mais um mensalão petista. Um ministro do Supremo, Gilmar Mendes, abriu processo contra um dos nossos, o querido ator José de Abreu. E os homens mais ricos e poderosos do país perseguem nossas modestas lideranças, que são os blogueiros que mais acessamos e gostamos, tentando lhes destruir a golpes de chicanas jurídicas.
De vez em quando, passaríamos a vista, furtivamente, na capa dos jornais; mas não arriscaríamos nossa paz de espírito numa briga de gigantes que parece se dar tão longe do cidadão comum.
A sensação é de total desamparo. Temos um Congresso acovardado, um STF reacionário, uma mídia extremamente agressiva e conservadora, um Executivo ausente e silencioso.

Culminando esse processo, ainda temos que lidar com uma nova modinha nas redes. Figuras posudas, uns por ingenuidade, outros por arrogância, todos por vaidade, tentam chamar a atenção elegendo a blogosfera “progressista” como inimiga, sondando-lhe os mínimos tropeços para lhe causar danos. Estes formam uma espécie de quinta-coluna: travestem-se de esquerda – de preferência ultra-esquerda – para melhor servir ao status quo. Compreende-se, embora não se perdoa. Sua postura lhes franqueia espaços na mídia, ou lhes granjeiam migalhas de popularidade na web.
Não faríamos nada disso, naturalmente, não fossem as compensações de ordem espiritual; ou para usar um termo mais republicano, compensações de ordem moral e cívica. É um tanto inexplicável, isso. Por outro lado, é algo perfeitamente lógico. Afinal, não haveria nenhuma demanda por democracia não possuíssemos, no interior de nós mesmos, este anseio por interferir e controlar nosso próprio destino, não apenas individualmente mas também socialmente.
Ah, a blogosfera. Já nasceu decadente, esfarrapada, irritadiça, cansada! E no entanto, incrivelmente, tornou-se a última aldeia gaulesa à resistir ao império romano! Com blogs mal diagramados, gerenciados na maioria por indivíduos com escassos conhecimentos tecnológicos, com designs cafonas, poluídos por cores berrantes, propagandas inúteis (que não dão um centavo) e quase sempre anunciando, com ingenuidade inacreditável, suas preferências partidárias – eis a “rede de blogs” onde desembocam as derradeiras esperanças do espírito democrático!
Não há como negar o heroísmo da empreitada!
Agora, por exemplo, lidamos com aquele que, talvez, seja nosso maior desafio: entender os últimos movimentos do xadrez político. A oposição conservadora-midiática, depois de perder muitas peças com a derrota eleitoral no ano passado, sobretudo em São Paulo, conseguiu mobilizar um poderoso ataque ao instrumentalizar o julgamento do mensalão e seduzir a maioria dos ministros do STF.
O editorial da Folha, criticando o STF nessa última decisão, de cassar o mandato de parlamentares, não passa de jogo de cena. O texto é confuso justamente por isso. Uma crítica superficial, motivada antes pelo receio de que, algum dia, o STF se insurja contra aliados, do que por uma preocupação genuína com a quebra de um princípio basilar da nossa democracia: a soberania do povo, que se corporifica na inviolabilidade do mandato de um parlamentar.
Alguns lançam ataques vulgares. “O Congresso estará desmoralizado se houver ali um representante condenado pela justiça! Como explicar para o homem comum que um preso possa ao mesmo tempo ser deputado federal!”
Ora, agora mesmo Elio Gaspari – que joga em todos os times – nos contou que, recentemente (em 1998), a justiça americana autorizou o condenado a prisão domiciliar Jay Kim, que era deputado federal nos EUA, a apenas sair de casa para ir ao Congresso, portando uma tornozeleira eletrônica! Na eleição seguinte, foi cassado, como deve ser, pelos eleitores. A informação de Gaspari, para início de conversa, desmente a grosseira observação de Joaquim Barbosa, quando rebateu Lewandowski, dizendo que isso jamais aconteceria nos EUA, porque, em virtude do poder dos “meios de comunicação”, o parlamentar condenado renunciaria antes.
O medo dos ministros do STF e da mídia é que algum parlamentar condenado use a tribuna para atacar a lisura e imparcialidade do julgamento do mensalão. Entretanto, esta tribuna foi concedida aos representantes do povo justamente para isso: para que falem, para que expressem ideias que, erradas ou não, são o que de melhor possuímos para avaliar a opinião soberana da população brasileira.
A impressão que temos é que eles ganharam essa batalha. Talvez tenham ganho mesmo. A paranóia em torno da criação de uma frente golpista formada por mídia e judiciário, as únicas duas grandes instâncias de poder que não são mediadas pelo sufrágio universal, apenas se agravou.
Permitam-me, todavia, repetir um clichê: é pouco antes do amanhecer que a noite parece mais escura. A vitória deles foi pírrica, porque se desgastaram enormemente, enquanto nós, os liliputianos, ganhamos força. E a nossa miséria, por sua vez, ganhou uma nova injeção de nobreza, porque cresceu a nossa consciência sobre ela. Como dizia Pascal: “O homem sabe que é miserável. Ele é, pois, miserável, de vez que o é; mas é bem grande, de vez que o sabe.”
A gente agora tem uma consciência agudamente dolorosa sobre nossa miséria, porque é realmente uma miséria que o voto de mais de 140 milhões de eleitores de repente não valha mais que a opinião arbitrária, truculenta e anticonstitucional de meia dúzia de ministros do Supremo Tribunal Federal. Deparamos com uma terrível falha democrática, e teremos desde hoje que lidar com mais esse perigo, com mais esse adversário da vontade soberana do povo. Porque um STF autocrático é como um rei absolutista. Se tivermos a sorte de haver juízes bons e comprometidos com a democracia, bem estar social, harmonia entre poderes e estabilidade política, nada melhor do que um STF ultrapoderoso. Se calhar termos juízes corruptos, incompetentes ou manipuláveis por uma mídia antitrabalhista, veremos o desenvolvimento do mais refinado e canalha golpe de Estado da modernidade. Os exemplos de Honduras e Paraguai nos mostram que esse tipo de golpe consegue, facilmente, afirmar-se moral e politicamente, em vista dos apoios que recebe dos poderosos conglomerados midiáticos latinos e do ultrabilionário conservadorismo norte-americano.
Por isso, não adianta tentarmos nos consolar com a esperança que Dilma indicará um juiz melhor que os anteriores. O problema não é sobre o caráter em si dos juízes e sim amarrar o destino de uma democracia aos altos e baixos de indivíduos que não passaram pelo crivo salutar do sufrágio. Temos que ampliar e oxigenar o STF. Adaptá-lo a uma democracia que é hoje quatro ou cinco vezes maior do que há quarenta anos. É preciso discutir como aperfeiçoar o STF, como deixá-lo mais democrático, fazer com que se torne o que deve ser: uma instância em prol da democracia, e não um órgão frágil, facilmente instrumentalizado por chantagens, ameaças e demais armas de persuasão de grupos de mídia.
Nada mais divertido (embora trágico), portanto, que esse golpe, gestado conscientemente por um lado, mas sobretudo sem que os próprios protagonistas tenham noção exata do que fazem (visto que se trata de um movimento natural dessa força escura, brutal e totalitária que movimenta o capitalismo), nada mais curioso que um punhado de blogueiros, com seus exércitos de talentosos comentaristas, intervenha e atrapalhe seu desenvolvimento. A explicação é que a força da blogosfera não reside em seus frágeis atores, mas na justiça histórica que torna sua existência necessária. Quanto mais o golpismo midiático se fortalece, mais se fortalecerá a sua sombra: o antigolpismo democrático. É uma lei acima inclusive das leis, porque fundamentada na fome de independência e liberdade do espírito humano, e não numa sempre precária constituição escrita. Eles podem aplicar os golpes que quiserem. Haverá sempre resistência. O destino dos reis é perderem suas cabeças.

domingo, 28 de outubro de 2012

Uma bela crítica ao uso da razão pura!

A motivo para as nossas escolhas?


Conceitos simples de Úrsula Burgos que sabe muito como pensar e comunicar seus conceitos, apresentando-os no seu Blog.

Quando podemos ou quando devemos usar a razão ou a paixão nas nossas escolhas, são perguntas difíceis e corriqueiras da nossa vida. As vezes temos tempo outras vezes não, mas destas escolhas baseamos no final nossos sucessos e erros. E nos tempos atuais de escolhas políticas cai como uma luva. Só não devemos neste momento esquecer as escolhas dos outros e sobretudo, respeita-las. Boa leitura a todos.

Esta não é apenas uma história de amor. Na verdade é uma história de paixão. É sobre o momento em que uma decisão importante está para ser tomada e talvez por isso não devesse se basear na paixão, mas se pronuncie quem for capaz de controlá-la. Na verdade é uma história de razão, mas o que dizer sobre as razões que a própria razão desconhece?

Sob a ótica da paixão as questões ganham dimensões muitas vezes distantes da realidade, tomam um cunho obviamente pessoal. Deixa-se de lado justificativas plausíveis, não precisa ter razão de ser, carece deliberadamente de fundamentação. Visto assim soa inconsequente, contudo escolhas decisivas são feitas assim todos os dias, e não necessariamente leva ao erro. Pode ser o que origina o passo mais acertado de sua vida, pode ser a fonte inspiradora para todas as suas conquistas, sua receita de sucesso. Hoje pode ser um desses dias.

Há, por outro lado, a racionalidade pura, a objetividade, que poderá lhe dar dados probabilísticos em direção ao acerto. Mesmo que não represente cem por cento de certeza, para alguns representa segurança. Estar embasado, fundamentado em fatos reais, buscando conhecer o modus operandi dos atores envolvidos em dada situação, sua trajetória trás a sensação de se estar tomando a decisão correta. Algumas situações certamente exigem tal estratégia. Hoje pode ser um desses dias.

O grande acerto num dia como esses, em que se degladiam paixão e razão, é ter sabedoria para distinguir se é hora de usar uma coisa ou outra. Mais ainda quando estamos um por todos e todos por um, com o gesto de um afetando a vida do outro. Não se espante; num dia como esses ambas podem ter seu lugar, e tudo pode se apresentar de forma suficientemente confusa a ponto de você sequer perceber. Então encare o momento de frente, tome as rédeas e decida o que só cabe a você. Ao final de tudo busque a serenidade, não apenas para aceitar os resultados, mas para ser agente de uma possível mudança se julgar necessário, de forma lúcida e coerente. Até porque outros dias como este chegam de tempos em tempos, e sem dúvida você vai querer fazer o melhor, com paixão ou com razão.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

As divagações sobre o fim do PT na Bahia! "Principalmente para aqueles que pensam mais com o fígado"



O PT foi o partido que mais votos tiveram em todo o estado da Bahia!

Elegeu os prefeitos de 93 municípios e está no segundo turno em duas cidades, - Salvador e Vitória da Conquista.

A distribuição dos votos foi a seguinte:
Municípios da Bahia
417
PT
93
22,30%
PSD
67
16,07%
PMDB
45
10,79%
PDT
43
10,31%
PSB
27
6,47%
PC d oB
13
3,12%
PSDB
10
2,40%
DEM
8
1,92%
Outros
109
26,14%
2o Turno
2
0,48%

417
100,00%

Os partidos do centro que apóiam o governo do PT ou não elegeram 53% das prefeituras com 221 prefeitos. De toda forma o governo elegeu em sua base 320 prefeitos, digamos assim 77% dos prefeitos na Bahia. Agora é bom lembrar, que os partidos do centro não teriam o menor problema de apoiar um governador de qualquer que seja o partido.

O vitorioso Democratas ganhou 8 prefeituras, o PSDB ganhou 10 e o PPS elegeu 3, um número incrível  de 5,04% dos municípios do estado. O Democratas colocou seu candidato no segundo turno na capital do estado com 518.976 votos contra os 513.350 votos do candidato do PT que vai disputar com ele. A diferença foi de 5.617 votos em um eleitorado de 1.881.544 eleitores.

O outro município com segundo turno, o terceiro maior colégio eleitoral do estado tem um candidato do PT que já teve 48% dos votos com um candidato do centro o PMDB com 40% dos votos válidos para a disputa.

O PT perdeu umas prefeituras como, por exemplo, Lauro de Freitas que tem uma prefeita do PT, perdeu por 5.558 votos num eleitorado de 106.079 votos mais ainda alcançou 46,21% dos votos válidos, de toda forma com um partido do centro e não da oposição clássica. Certamente deve ter perdidos outras também. Mas e daí?

Gente, em uma eleição uns perdem enquanto outros ganham, e no fim o ciclo se renova novamente a cada quatro anos. Quem ganhou hoje amanhã pode perder e está tudo valendo. Isso vale tanto para Chico quanto para Francisco. Eu sinto dizer a todos, o PT não está nem perto do fim na Bahia e muito menos no Brasil. Vamos pensar com menos raiva e sim com mais propostas. Se alguém quer um dia derrotar o PT na Bahia ou no Brasil, e mesmo assim apenas temporariamente, primeiro precisa parar de chamá-los de ignorantes de burros de populistas ou de ditadores e etc. Afinal isto foi o que eu mais vi como por exemplo na mídia social do facebook. Isto pessoal não constrói nada, e vai manter infelizmente a dita elite com os olhos esbugalhados vendo o PT vencer de novo e novamente e mais uma vez e etc.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

27 de Setembro... Cosme e Damião


"Eu era criança
Eu tinha esperança
De ser um dia feliz
Mamãe me dizia
Com os doces que havia
Que eu lhe fizesse um favor
Pedisse aos santinhos
Que meu papaizinho
Desse a ela o seu grande amor
Cosme, Damião, Doum,
Crispim, Crispiniano
Caboclinhos da mata
Doces para vocês, eu dei
As promessas que fiz já paguei
Festas e mais festas eu fiz
Neste dia feliz eu me lembro
27 de setembro!!!!"

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dor de Cotovêlo dói na alma!



Eu não tenho nada a dizer sobre os dizeres de FHC no seu último escrito só mostra uma enorme dor de cotovelo. A presidenta Dilma Russef até tentou entender a importância de uma oposição civilizada, programática (Conforme Luís Nassif em seu Blog) e teve que responder as implicações imprecisas (para meu ver falsas) e  imagino que para ela também no que foi dito em nota oficial no Blog do Planalto, mostrando inclusive uma interlocução de que é bom ela ver uma síndrome de dor e segundo Nassif de escorpião também. O texto abaixo do Emir Sader mostra a enorme dor de cotovelo do mesmo, e o nome da dor é Lula. Só nos resta compadecer de sua dor Em gênero número e grau!

Sorry for him!


O governo Lula recebeu uma herança maldita do governo FHC, refletida numa profunda e prolongada recessão, no desmonte do Estado, na multiplicação por 11 da dívida pública, no descontrole inflacionário. O controle da inflação jogou-a para baixo do tapete: transferiu-a para essa multiplicação da dívida pública.

O povo entendeu, rejeitou FHC e derrotou os seus candidatos: Serra duas vezes e Alckmin. Isso é história, tanto no sentido que é verdade incorporada à história do Brasil, como história porque o governo Lula, com grande esforços, superou a recessão profunda e prolongada herdada e conduziu o Brasil ao ciclo expansivo que dura até hoje.

Para não aguçar o clima de instabilidade que a direita pretendia impor no começo do seu governo, Lula preferiu não fazer o dossiê do governo FHC, que incluísse tudo o que foi mencionado, mais os escândalos das privatizações, da compra de votos para a reeleição, da tentativa de privatização da Petrobras, entre outros.

Não por acaso FHC é o político mais repudiado pelos brasileiros. Já na eleição de 2002, Serra tratou de distanciar-se do FHC. Em 2006, as privatizações, colocadas como tema central no segundo turno, levaram a uma derrota acachapante do Alckmin. Em 2010, de novo, o Serra nem mencionou FHC, tentou aparecer como o melhor continuador do governo Lula, para a desmoralização definitiva do governo FHC.

Ao lado disso, economistas da ultra-esquerda esposaram a bizarra tese de que não havia herança maldita, que o governo Lula era continuidade do governo FHC, que mantinha o modelo neoliberal. Além de se chocarem com a realidade das transformações econômicas e sociais do país, foram derrotados politicamente pelo total falta de apoio a essas teses no final do governo Lula, quando o candidato que defendeu essas posições, apesar de toda a exposição midiática, teve 1% dos votos.

FHC não ouve ninguém, despreza os que o cercam, mas sofre da teoria da dependência da dor de cotovelo. Dedica as pouco claras forças mentais que lhe restam para atacar Lula, cujo sucesso – espelhada no apoio de 69,8% dos brasileiros que querem Lula de volta como presidente em 2014 e nenhuma pesquisa sequer faz a mesma consulta sobre o FHC, para não espezinhá-lo ainda mais – fere seu orgulho à morte.

Esses amigos tentam convencê-lo a não escrever mais, a não se expor ainda mais à execração pública – com efeitos diminutos, porque ele não ouve, seu orgulho ferido é o maior dos sentimentos que ele tem, mas também porque ninguém lê seus artigos – a se retirar definitivamente da vida pública. Cada vez que ele se pronuncia, aumentam os apoios ao Lula e à Dilma.

A história diz, inequivocamente, que o Lula é um triunfador e FHC um perdedor. Isso a direita e seu segmento midiático não perdoam, mas é uma batalha perdida para todos eles.

domingo, 5 de agosto de 2012

"Caso sub judice" Uma "Data Venia" sobre uma "Abditae causae"



O julgamento do dito mensalão é no mínimo confuso. Parte de idéias que na minha opinião são no mínimo esquisitas, pelo que é publicado na dita grande imprensa. Adivinhar o que vai sair de lá não dá para dizer, mas os resultados com certeza vão surpreender muita gente. Porém muitas perguntas precisam ser feitas sobre este julgamento, e o lado mineiro e mais antigo por exemplo? Tem que ser agora, porque não foi feito antes? É a mando de quem? Da imprensa? É a imprensa quem julga ou os ministros? Porque a imprensa quer dizer que um ministro pode e outro não pode julgar? Porque eu não posso fazer o mesmo? Ora bolas a muito para entender de certos contratempos e constrangimentos, portanto deixo o texto abaixo que faz uma importante Data Venia de uma Abditae causae em um estranho caso sub judice.

Os constrangimentos no mensalão!

Por Paulo Moreira , no Vamos Combinar

Sabemos que  os esquemas financeiros da política brasileira são condenáveis por várias razões, a começar pela principal: permitem ao poder econômico alugar o poder político para que possa atender a seus interesses. Os empresários que contribuem com campanhas financeiras passam a ter deputados, senadores e até governos inteiros a seu serviço, o que é lamentável. O cidadão comum vota uma vez a cada quatro anos. Sua força é de 1 em 100 milhões. Já o voto de quem sustenta os políticos é de 100 milhões contra 1.

Por isso sou favorável a uma mudança nas regras de campanha, que proíba ou pelo menos controle essa interferência da economia sobre a política. Ela é, essencialmente, um instrumento da desigualdade. Contraria o princípio democrático de que 1 homem equivale a 1 voto.

Pela mesma razão,  eu acho que todos os fatos relativos ao mensalão petista precisam ser esclarecidos e examinados com serenidade. Casos comprovados de desvios de recursos públicos devem ser punidos. Outras irregularidades também não devem passar em branco.

Não vale à pena, contudo, fingir que vivemos entre cidadãos de laboratório. Desde a vassoura da UDN janista os  brasileiros têm uma longa experiência com campanhas moralizantes para entender um pouco mais sobre elas. Sem ir ao fundo dos problemas o único saldo é um pouco mais de pirotecnia.

No tempo em que Fernando Henrique Cardoso era sociólogo, ele ensinava que a opinião pública não existe. O que existe, explicava, é  a “opinião publicada.” Esta é aquela que você lê.

O julgamento do mensalão começa em ambiente de opinião publicada. O pressuposto é que os réus são culpados e toda deliberação no sentido contrário só pode ser vista como falta de escrúpulo e cumplicidade com a corrupção.

Num país que já julgou até um presidente da República, é estranho falar que estamos diante do “maior julgamento da história.” É mais uma opinião publicada.  Lembro dos protestos caras-pintadas pelo impeachment de Collor. Alguém se lembra daquela  da turma do “Cansei”?

Também acho estranho quando leio que o mensalão foi “revelado” em junho de 2005. Naquela data, o deputado Roberto Jefferson deu a entrevista à  Folha onde denunciou a existência do “mensalão” e disse que o governo pagava os deputados para ter votos no Congresso. Falou até que eles estavam fazendo corpo mole porque queriam ganhar mais.
Anos mais tarde, o próprio deputado diria – falando “a Justiça, onde faltar com a verdade pode ter mais complicações  – que o mensalão foi uma “criação mental”. Não é puro acaso que um número respeitável de observadores considera que a existência do mensalão não está provada.
A realidade é que o julgamento do mensalão começa com um conjunto de fatos estranhos e constrangedores. Alguns:

1. Roberto Jefferson continua sendo apresentado com a principal testemunha do caso. Mas isso é o que se viu na opinião publicada. Na opinião não publicada, basta consultar seus depoimentos à Justiça, longe dos jornais e da TV, para se ouvir outra coisa.  Negou que tivesse votado em projetos do governo por dinheiro. Jurou que o esquema  de Delúbio Soares era financiamento da campanha eleitoral de 2004. Lembrou que o PTB, seu partido, tem origens no trabalhismo e defende os trabalhadores, mesmo com moderação. Está tudo lá, na opinião não publicada. Ele também diz que o mensalão não era federal. Era  municipal. Sabe por que? Porque as eleições de 2004 eram municipais e o dinheiro de Delúbio e Marcos Valério destinava-se a essa campanha.

2. Embora a opinião publicada do procurador geral da República continue afirmando que José Dirceu é o “chefe da quadrilha” ainda é justo esperar por fatos além de interpretações. Deixando de lado a psicologia de botequim e as análises impressionistas sobre a personalidade de Dirceu  é preciso encontrar a descrição desse comportamento nos autos. Vamos falar sério: nas centenas de páginas do inquérito da Polícia Federal – afinal, foi ela quem investigou o mensalão – não há menção a Dirceu como chefe de nada. Nenhuma testemunha o acusa de ter montado qualquer esquema clandestino para desviar qualquer coisa. Nada. Repito essa versão não publicada: nada. São milhares de páginas.  Nada entre Dirceu e o esquema financeiro de Delúbio.

3. O inquérito da Polícia Federal ouviu  337 testemunhas. Deputados e não deputados. Todas repetiram o que Jefferson disse na segunda vez. Nenhuma falou em compra de votos para garantir votos para o governo. Ou seja: não há diferença entre testemunhas. Há concordância e unanimidade, contra a opinião publicada.

4. A opinião publicada também não se comoveu com uma diferença de tratamento entre petistas e tucanos que foram agrupados pelo mesmo Marcos Valério. Como Márcio Thomaz Bastos deve lembrar no julgamento, hoje, os  tucanos tiveram direito a julgamento em separado. Aqueles com direito a serem julgados pelo STF e aqueles que irão para a Justiça comum. De ministros a secretárias, os acusados do mensalão petista ficarão todos no mesmo julgamento. A pouca atenção da opinião publicada ao mensalão mineiro dá a falsa impressão de que se tratava de um caso menor, com pouco significado. Na verdade, por conta da campanha tucana de 1998 as agências de Marcos Valério recebiam verbas do mesmo Banco do Brasil que mais tarde também abriria seus cofres para o PT. Também receberam aqueles empréstimos que muitos analistas consideram duvidosos, embora a Polícia Federal tenha concluído que eram para valer.  De acordo com o Tribunal de Contas da União, entre 2000 e 2005, quando coletava para tucanos e petistas, o esquema de Marcos Valério recebeu R$ 106 milhões. Até por uma questão de antiguidade, pois entrou em atividade com quatro anos de antecedência, o mensalão tucano poderia ter preferência na hora de julgamento. Mas não. Não tem data para começar. Não vai afetar o resultado eleitoral.

É engraçada essa opinião publicada, concorda?


Sobre o título em latim
Caso sub judice = Caso a ser julgado
Data Venia = Data a vênia
Abditae causae = Causas ocultas ou desconhecidas

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre Blogs Sujos e Eu!



Não sou escritor, não sou jornalista, contudo me interesso muito pelo noticiário político e  econômico e é claro outros assuntos também, desta forma procurando várias opções de leitura procuro entender o que ocorre e eventualmente tomar partido para o bem ou para o mal, e se possível, se estiver inspirado divulgarei o que acho ou o que merece ser mudado em mim ou mantido por mim nas minhas opiniões, porém, é bom lembrar que eu não devo ser o dono da verdade e ao mesmo tempo não quero o aceite das pessoas  em relação ao que eu escrevo e penso. Muito pelo contrário gostaria que todos tivessem acesso a informação da forma mais variada possível, e assim tome as suas decisões, e que se dentro das minhas puder usar uma parte, ótimo.

No que escrevo devo lembrar que é possível que me chamem do "Blog de Sujos", visto que tenho um lado no meu pensamento, uma tendência meio voltada para a esquerda e pela garantia de pessoas que certamente são menos favorecidas do que eu. Na verdade o que mais eu defendo é uma Democracia irrestrita com uma participação real do povo, o que o lado lá a direita e certa esquerda digamos "Intelectualizada" acham isto um "perigo", como se quisessem o pensamento voltados para o si apenas.

Na verdade o lado da direita digamos mais  radical gosta de nos tratar desta forma de "Sujos!". Quanto a isso OK! Essa alcunha já nos cabe muito bem! como diria Paulo Henrique Amorim no seu Conversa Afiada dentre outros Blogs ditos "Sujos" que leio constantemente. Aliais somos sujos porque costumamos defender a verdade, e um tratamento correto entre as partes o que a mídia não gosta de fazer, muito provavelmente devido a uma parceria digamos "estranha" com os grupos direitistas, e pouco se importando a idéias mais voltadas aos trabalhadores e as pessoas mais pobres, como se viessem deles "os pobres" o seu sofrimento e a sua dor.

O envenenamento do ambiente político é uma ação de cunho antidemocrático. Se a oposição, não consegue conduzir o debate político da forma convencional, através de argumentos e disputa eleitoral, apela para a desqualificação moral do adversário. É uma tática espúria que provavelmente existe desde o início da democracia no mundo. Com isso, não há discussão de políticas públicas, não há debate sobre as razões que levam o povo a preferir este ou aquele candidato, nada é dito acerca das mazelas sociais, e se passa ao largo da difícil guerra que precisa ser feita para a superação do subdesenvolvimento. Discute-se apenas se fulano é honesto ou não. O país inteiro fica a mercê das suspeitas sobre a idoneidade dos candidatos e nas terras do Brasil principalmente Lula ou Getúlio Vargas.

Quanto ao mérito das ações de seu governo, não se fala nada. É uma estratégia antiga, pobre e ultraconservadora, que visa paralisar ou atrasar o desenvolvimento. Infelizmente a mídia, e não só a radiofusão, que é concessão pública, mas também a imprensa escrita, que recebe milhões de reais de verbas públicas através de publicidade institucional, promovem o empobrecimento do debate político e cultural do país, degradando a democracia e retardando o debate urgente sobre medidas urgentes que devemos tomar para superar o nosso atraso econômico e social.

Agora contudo, a mídia perdeu o monopólio dos debate públicos, visto que não governa mais as notícias de forma exclusiva, hoje não tem mais o poder para criar tentativas de golpes como fez no passado e a história já demonstrou. As crises são rapidamente derrubadas pelo movimento das redes sociais e de fontes independentes de notícias que procuram apurar o fato e não simplesmente versões do mesmo como era antes divulgado. A população entende o que ocorre e com esta velocidade estonteante da mídia digital, percebe os erros de dimencionamento das notícias e tem uma capacidade melhor de compreendelas. Hoje a população percebe os defeitos da mídia e rapidamente as desqualifica, caso estejam deveras distorcidas ou se acompanhadas de outras versões ou outras percepções podem ter um melhor ajustamento sobre a compreensão das mesmas.

No passado eles sempre venceram, contudo a quantidade de informação hoje é espetacular. Ninguém mais sofre de uma opinião única, apenas se assim quiser. No mundo de hoje qualquer pessoa pode difundir suas opiniões. Publica-las para quem quiser ler e usar e isto é muito bom. Ninguém mais é iludido a menos que queira. Por isso faço a minha parte, hoje publico o que eu penso e acho e é claro dentro do meu conhecimento e com a minha consciência. Esta é a lei moral dentro de mim. Deste lado a velha imprensa e velha direita não gosta. Nos chamam de sujos e portanto sujo eu sou.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Escandalo!!!! Será?


 Tenho andado escrevendo pouco no blog, contudo acompanho o que ocorre e tenho me relacionado mais até pelas mídias sociais como facebook e outras. Espero que rapidamente volte a escrever aqui sobre vários assuntos. Começarei com um tema do grupo "Em gênero número e grau".

De toda forma fica para você este belíssimo artigo do Luciano Martins Costa sobre os discalabros da imprensa e seus relacionamentos com o nova era de divulgação que não permite mais a velha mídia ser dona exclusiva da informação, tendo os fatos rapidamente derrubados pela Blogosfera, obrigando-os a recuar em seus escândalos de papel. Pois nós os Blogs estamos aqui para isso, e sempre estaremos. E se nos chamarem de Sujos! Tamos aqui para isto também! Afinal Sujos Somos!

Um novo escândalo de papel

Por Luciano Martins Costa em 31/05/2012 na edição 696 do Observatório da Imprensa!

O escândalo provocado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, ao procurar a revista Veja para acusar o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva de haver tentado chantageá-lo, começa a arrefecer sem produzir maiores efeitos do que o de costume: comentários para lá e para cá, manifestações de praxe dos mesmos personagens engajados em um e outro lado do Fla-Flu em que se transformou a política no Brasil.

Com relação à imprensa, a novidade nesse entrevero, comparado a outros episódios do tipo bate-boca que marcam as disputas partidárias há dez anos, é que os jornais começam a reconhecer a existência de um espaço para ações comunicacionais fora do controle das redações.

Jornalistas institucionalizados chamam essas ações de “guerrilha da militância abnegada” ou de “blogs sujos”, expressões que remetem a valores negativos em contraposição a um suposto ambiente mais “limpo” representado pela mídia tradicional.

Trata-se de uma posição arrogante e perigosa, que desconhece a verdadeira natureza das manifestações que se multiplicam na internet quando parte do público fica insatisfeita com as escolhas da imprensa. É uma clara tentativa de estigmatizar esse espaço de liberdade que caracteriza a própria tecnologia digital de comunicação, na qual as opiniões pessoais livremente expressadas podem ser agrupadas por sistemas informatizados de busca e agregação.

Credibilidade minada

A rigor, o contexto que a imprensa tradicional trata como marginal já constitui o maior complexo de informações e opiniões disponível para a sociedade e sua principal característica é o fato de não depender de uma marca, ou uma chancela, para existir e atuar no chamado espaço público.

Quanto ao estilo jornalístico que apresenta de forma predominante, não há como diferenciá-lo muito do texto praticado na imprensa tradicional, a não ser pelo fato de que costuma convergir para posições políticas distintas ou divergentes daquela que predomina nos meios institucionais.

Aliás, já não se pode usar certas expressões com o mesmo sentido, uma vez que, quando agregados, esses produtores de conteúdo quase informais dos meios digitais ganham características de instituição.

O caso presente, em que um ministro do Supremo Tribunal Federal, sentindo-se ameaçado em sua reputação por notícias especulativas sobre seu suposto envolvimento com um bicheiro e um senador acusados de crimes contra o patrimônio público, procura a imprensa institucional para se defender de ataques no espaço cibernético, pode ser inscrito pelos pesquisadores como um divisor de águas.

Claramente, o apoio incondicional e unânime da chamada grande imprensa não bastou para respaldar a atitude do ministro, que viu agigantar-se contra sua acusação um tsunami de manifestações opostas que o obrigam a recuar e permanecer em silêncio.

Pior: como o “espaço” digital é praticamente imensurável, cabem ali muito mais bits de informação do que aquilo que é abrigado na imprensa de papel, no tempo restrito da televisão e do rádio ou mesmo no espaço computacional definido pelas marcas institucionais da imprensa. Em função disso, parte da grande diversidade de observações vazou da internet para dentro dos jornais, minando a credibilidade de sua declaração até no espaço que escolheu para se manifestar.

Para os arquivos digitais

O ministro foi questionado, por exemplo, sobre as razões que o fizeram demorar um mês para dar curso à acusação contra o ex-presidente da República. Também lhe foi perguntado, publicamente, por que não foi se valer da Justiça em vez de procurar a imprensa, considerando-se que, como integrante da Corte Suprema, deveria dar o exemplo de cidadania e de confiança na instituição republicana.

Da mesma forma, ponderou-se que, se houve algum elemento de inconveniência num encontro entre um ministro do Supremo Tribunal Federal e um ex-presidente da República, a responsabilidade maior é do representante da corte, considerando-se que o ex-presidente, ainda que obrigado a certas reservas protocolares, é agora um cidadão comum que pode fazer petições ou manifestar suas opiniões sobre assuntos que considerar pertinentes.

Evidentemente, uma figura maior da República, ainda que apartado oficialmente do poder, tem sempre que guardar alguma reserva, principalmente em respeito à alta popularidade que ainda lhe confere a sociedade e considerando-se sua incontestável capacidade de influência. Mas o máximo que se lhe pode imputar é o fato de haver provocado ou aceito um encontro reservado com um dos futuros julgadores de uma questão judicial na qual tem interesse, com alto risco para controvérsias.

Na quarta-feira (30/5), os jornais ainda insistiam no esforço para levar a corner o ex-presidente. Na quinta (31), as manifestações de outras personalidades aconselham o ministro do STF a recuar, e provavelmente ele vai aparecer em breve numa foto com o ex-presidente em pose de velhos amigos.

Mas a patética tentativa da imprensa de criar uma crise institucional já está registrada para a posteridade. Em seus próprios arquivos digitais.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Para entender de política e a estratégia de Dilma!



Para que nós possamos entender um pouco de política e como ela funciona. Os valores que podem trazer ou não dentro de uma sociedade. É extremamente importante termos alguma cultura da política e como ela funciona, afinal de contas ninguém é igual a outra pessoa, somos intrinsicamente diferentes, temos conceitos e idéias diferentes, e a condução da sociedade é feita pela política, o que não é tão ruim como se pensa e a imprensa divulga, até porque é melhor para o seu modo de atuação o não entendimento da mesma. É claro  que estão sempre presentes idéias que não são totalmente como as nossas, do nosso lado ou do lado adversário afinal dentro dela existe uma disputa de prioridades e importâncias. E a forma de torna-las possíveis ou não, contrariando alguem ou não, essas disputas não são fáceis mas são o cerne da sociedade. E aprender a discutir seus problemas de forma coerente e correta sem desmerecer a visão do outro lado é que no tempo tornará as coisas mais fáceis.

Deixo com vocês um trabalho muito bem feito por Eneas de Souza sobre a condução política feita por Dilma em sucessão a Lula, onde concordo com o quase tudo do que eles fizeram e fazem no seu governo e no meu conceito incrementam o desenvolvimento do país. Aqueles que acham que está tudo errado podem comentar tenham apenas elegância que os mesmos seram publicado. E caso eu puder responder da minha parte o farei.

Do Sul 21


Eneas de Souza

A Dilma tem uma inteligência estratégica que une, tanto na concepção como na prática, a Grande com a pequena política. Não é um jeito trivial, não, é uma força de ser. Tem a vocação de um pensamento nítido que não vacila no gesto. O que parece ser uma ligação da teoria com a prática: o conhecimento está irmanado com uma velha idéia grega, a do kairós, que quer dizer o senso de oportunidade. Nela há uma fraternidade dialética entre a idéia e a hora da ocasião. E o efeito deste movimento é o melhor possível – até agora, ao menos – pois a surpresa dos opositores, o aplauso dos adeptos e a indiferença dos que “não gostam e não entendem de política” se expressam numa aprovação inédita do país à presidenta.

Vou tratar da sua presidência de uma maneira rápida e sintética. Sei que a questão é vasta. Mas começo por colocar na roda e na pauta alguns aspectos que tenho por relevantes. Deixo para mais tarde uma melhor e mais ampla análise sobre a política da Dilma. Aproveito a sua viagem a Cuba para fazer uma pequena reflexão sobre este ano e um mês que tivemos de seu trabalho. O que se pode dizer sobre o assunto
 Lula e Dilma, a soma de um projeto de poder

A primeira coisa que gostaria de salientar é a continuação do lulismo, num agora lulismo-dilmismo. Parece incrível que as pessoas não notem este prosseguimento. E não notam. E não notam porque avaliam que a Dilma, para ser continuação do Lula, teria que ser uma cópia. Ela não é uma imitação, isso já ficou abusivamente claro. Portanto, é um continuar com qualidade própria. E quando Dilma faz algo diferente do que pensam que Lula faria, querem destacá-la dele. Esse país não está sabendo pensar. Como dizia um velho professor da direita na faculdade de Economia, “unir sem confundir” é preciso. Relacionar e diferenciar. Ver que a realidade tem uma solda e uma luz que põe os pontos do mundo no seu lugar.

Pois Lula e Dilma fazem parte do mesmo jogo. Um projeto de poder. Um projeto de poder nacional para transformar tanto o capitalismo financeiro e o neoliberalismo político como a condição do Brasil e da população brasileira. A estratégia da Dilma vai se fazendo, continuando e transformando a escultura de Lula, tanto na geopolítica como na geoeconomia. Não podemos deixar de salientar que com a Dilma houve um aumento de força neste projeto de poder. Juntos, Lula e Dilma, constroem um acréscimo de plasticidade na trajetória petista. Duas estrelas valem mais do que uma, tem mais céu e mais presença no combate político, tanto partidário, quanto entre nações. O lulismo se dilata, se fortalece, se adensa com o aporte da Dilma. Por isso, digo lulismo-dilmismo.

A dança da geopolítica e da geoeconomia

A crise do capitalismo pôs em questão o capitalismo financeiro e o neoliberalismo, e dividiu o eixo único do poder americano em dois, o novo eixo de Tio Sam e o eixo chinês, que se encontram num longo processo de constituição. Pois, na confusão do baile, a estratégia do Brasil, nesse momento, navega com algumas peculiaridades. A primeira coisa a constar é que o país tem que flutuar no jogo político, seja por causa da proximidade do comércio exterior com a China, seja porque os Estados Unidos trabalham em formas disfarçadas de protecionismo, seja porque os chineses têm ações predatórias nas relações com os outros países (África e mesmo América Latina, por exemplo), seja porque os americanos têm formas financeiras devastadoras. E por aí nós vamos.

O Brasil já mostrou que é um player médio no jogo internacional das nações, mas que não tem capacidade de organizar nem a geopolítica, nem a geoeconomia mundial. Dada a evolução da crise atual, aquela presença exuberante de Lula e do Brasil nos últimos anos não poderia continuar. Cabe aproveitar pequenas intervenções para marcar pontos, para segurar campos conquistados, aguardando o ressurgimento criativo no futuro para novos avanços. Trata-se, logo, de manter e reforçar a nossa posição. Assim, faz a Dilma. O discurso na ONU, a presença no G-20, a viagem à China, etc. Contudo, o horizonte da geoeconomia e da geopolítica mundial está a indicar que deve-se ir além de um reforço do estado atual do país. O salto sobre a crise passa por ordenar uma determinada região do mundo. A China arruma a Ásia e o Brasil amalgama a América do Sul, talvez a América Latina.

No caso brasileiro, a expansão da presença do Brasil no colorido continente sul-americano carrega um processo que projeta integrações produtivas, aduaneiras, integrações de infra-estrutura, de transporte, integrações educacionais e culturais, etc. O espaço deste itinerário adquire uma potencialidade altamente desejável e promissora. E essa flor, esse girassol, amadurecerá plenamente quando o rosto escuro do protecionismo chegar. Ele abrirá uma nova etapa da crise mundial – talvez no fim de 2012, quem sabe no decorrer de 2013. Nesse quadro, a integração regional será absolutamente decisiva para esses países. A América do Sul passa a ser, nessa paisagem, uma jogada geopolítica e uma jogada geoeconômica. Trata-se de uma oportunidade semelhante àquela que o Brasil teve por ocasião da crise dos anos trinta, só que agora num território continental. Dilma está com essa bola toda.

No campo geoeconômico, o principal norte é o futuro da economia mundial. No meu modo de ver, toda esta crise econômica serve para pautar a passagem de um padrão de acumulação de capital para outro, esse novo centrado na expansão das tecnologias de comunicação e informação, de novos materiais, das ciências médicas, etc. Essa passagem é longa e demorada, cheia de convulsões e rebuliços. Basta lembrar o que foi a crise da Grande Depressão. Portanto, temos um longo caminho a percorrer. Todavia – cabe salientar um ponto decisivo – o Brasil parece já estar neste futuro. Não pelo lado da fronteira tecnológica de vanguarda, mas pelo lado de uma certa infra-estrutura desse padrão. O Brasil vai de energia, de alimentos e de minérios. Contudo, é fundamental não ficar nessa primarização: o desenho da economia brasileira deve traçar um planejamento para a área de inovações e de tecnologia. E isso que daria ao país uma posição melhor na nova divisão internacional do trabalho.

É o curto prazo que está envolto num terreno de incertezas e de ameaças. Pois, se as contas do governo vão bem, o Brasil, como um atleta de salto triplo, se prepara – e essa é uma das preocupações da Dilma – para bloquear os efeitos da crise européia, para encarar as múltiplas facetas e repercussões do protecionismo variado, para conter o expansionismo complicado dos chineses. E, no entanto, o Brasil também não pode deixar de considerar as perspectivas de uma expansão do mercado interno. A vitamina virá de um programa de investimentos (PAC, Minha Casa, Minha Vida, por exemplo), acompanhado do consumo da classe mais necessitada, através dos gastos dos programas sociais do governo. E, como ampliação do mercado interno, pode-se apostar em tentativas de superar as questões vinculadas ao que se chama de desindustrialização da economia produtiva por causa do efeito chinês. Completa o espelho da incerteza atual os temores da repercussão da crise européia, o que Guido Mantega chama de guerra cambial, o tratamento mais consistente da taxa de juros e da atração insistente dos capitais financeiros pelo Brasil, etc.

A novidade estratégica de Dilma

Pensem os leitores, dispam seus preconceitos, e pensem mais atentamente o que Dilma está construindo no subtexto de sua presidência. De um lado, a unificação do Estado, que ela trabalha desde os tempos da Casa Civil e cujo maior êxito é a convergência do Banco Central com o governo. E de outro lado, dar uma cara nova à política, o que está se constituindo, a meu ver, como uma surpreendente novidade da área. Ousamos dizer que ela tenta mudar politicamente a política, introduzindo o campo dos valores como uma passagem de nível, como uma tarde de sol num inverno social.

Vou tentar explicar. A política é conflito, combate, diferença, tensão, discórdia. Perspectivas opostas, basicamente, valores distintos. Nela jogamos com a alteridade. Tudo aí se complica pois está presente a figura do outro. O outro é meu adversário, pode ser meu inimigo. O outro me escapa. Não sou capaz de fazer com que ele faça o que eu quero a não ser que ele esteja disposto a querer o mesmo. Na política contemporânea, houve o incremento de um padrão onde os valores da chantagem, da corrupção, da violência, por exemplo, predominam. O poder pelo poder. O realismo político passou a ser: se o outro não tem valores, ah! meu caro, eu também não preciso ter. Não preciso assumir valores coerentes, afirmativos, de uma cultura crítica, de um desenvolvimento social, da busca de um bem estar, da construção de um bem comum. Logo, valores coletivos, valores da dignidade, da legitimidade, da solidariedade, da liberdade, da fraternidade, da democracia. Valores para um poder criativo. Posso, pelo contrário, assumir os valores da força, da violência, da porrada, da prepotência, do ludibrio, do engano, do engodo, da burla, do exercício único do mando como o valor que interessa. Houve assim uma espécie de abolição de valores de um tipo em detrimento de outro no quadro da modernidade do jogo político.

Dilma vem articulando nos seus atos um conjunto de valores que não responde automaticamente aos atos dos adversários, ao menos, no mesmo nível deles. E isso tanto no jogo político partidário, parlamentar e ministerial como no jogo político da mundialização. Se duvidam, vejam o tema da corrupção de ministros e dos ocupantes de segundo escalão do governo. Ou a questão dos direitos humanos nos planos nacionais, como nos casos do Irã, de Cuba e dos Estados Unidos. Memorável o seu encontro com as madres de Mayo na sacada da Casa Rosada. Memorável também a resposta em Cuba sobre a questão dos direitos humanos. Todos os países cometem delitos, disse ela. O Brasil, Cuba e os Estados Unidos. Chamou a atenção para Guantánamo, que curiosamente os “defensores” dos direitos humanos não falam. Com atitudes como essas, Dilma vai compondo uma cesta de valores que passam pelas já citadas questões da corrupção e dos direitos humanos, como também pela presença das mulheres em cargos públicos de destaque, como a obstinação na erradicação da miséria, como a civilidade no trato da política. E assim, a viagem no campo dos valores vai se fazendo.

Gostaria de chamar a atenção para o tema da corrupção. Trata-se de algo profundo. O capitalismo financeiro fazendo de tudo – homens, coisas e valores – um negócio, corrompeu fortemente as relações humanas e políticas. A política se tornou, em muitos momentos, um caso de compra e venda, de chantagem, misturando favores políticos e cargos. Dilma tem se dedicado a reverter essas coisas. E fez da chantagem, inclusive midiática de denúncia da corrupção, uma forma de alavanca para romper com estas práticas. E fez de tal forma que baliza a própria base do governo na escolha de ministeriáveis, como também provoca a elevação ética no campo da política. Faz dos valores um componente do político, de tal forma, que cria um ambiente, uma atmosfera que vai transformando e enfatizando a política. Os valores tornam-se um ponto de referência em qualquer negociação. Ou seja, o combate principal se dá entre valores, embora, na sua prudência e astúcia, Dilma sempre saiba que a política é relação de forças, imposição de vontade. E que o menos ruim é melhor que o péssimo. E só se sabe isso quando se joga com valores.

A união da grande e da pequena política

Essas pequenas considerações servem para mostrar que a estratégia da Dilma é capaz de unir a Grande e a pequena política. Porque se Dilma se dedica a desenvolver a política, a estratégia e o projeto nacional – uma herança do governo Lula – ela não a defende somente em nome da política e da economia, mas a sustenta em nome de valores, que é a única forma capaz de fornecer critérios para decidir tanto no ar da Grande política como no solo da pequena política. Dilma age com valores que lhe permitem dar uma distinção à política na floresta agreste do capitalismo selvagem. E essa transformação tem sido feita progressivamente, sem alarde. E, de repente, as pessoas tomam consciência da energia e da sutileza da Dilma. A sua estratégica envolve uma concepção de valores como um toque sutil no combate pela metamorfose da política. São valores que não deixam de ter contundência, pois a política é um jogo pelo poder, é a arte de fazer a fisionomia de uma época.
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