Entender os preconceitos da nossa elite é muito fácil se conseguimos enxergar de onde o mesmo vem, e está ficando cada vez mas difícil não se perceber isso. Esclarecendo: a mídia que escreve e fala para si mesma e para um público cada vez menor. Já dizia o Old Abe "É possível enganar a todos por um certo tempo, é possível enganar alguns o tempo todo mas é impossível enganar a todos o tempo todo." A máscara da imparcialidade midiática caiu faz tempo e aos poucos só restam aqueles que se deixam enganar o tempo todo. Ou seriam aqueles que como andam com os porcos se alimentam da mesma fonte. Abaixo artigo esclarecedor do Emir Sader
O Escândalo Lula
Por Emir Sader na Agência Carta Maior
Quem olhasse para o Brasil através da
imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que
constatou o ex-presidente português Mário Soares, que a essa dicotomia
soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no
governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não
reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito
apoio interno do Lula.
Acontece que Lula não se subordinou ao
que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse
eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer
alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali,
isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição –
incapaz de deixar de sê-lo.
Quando Lula contornou isso, constituiu
um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso:
ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações,
descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela
volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no
Brasil por vinte anos.
Lula contornou esse problema. Aí o medo
era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe
então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas
orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de
movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou
supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que
fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006.
Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder,
isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de
mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a
governos antidemocráticos e antipopulares.
Lula superou esses obstáculos,
conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o
apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o
mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na
televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode
falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que
deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do
presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao
contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e
expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o
apoiam.
Talvez nada reflita melhor a distância e
a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do
outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua
trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo
inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha
uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não
tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e
de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina,
como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos
Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.
Lula é o melhor fenômeno para entender o
que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em
todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o
que você acha do Lula e eu te direi quem és.
A tradução da citação latina do título é "Para mim isso é mais claro que a luz"
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